Falando em línguas, Um delírio dos dias atuais - W. J. Hocking - Parte 1

Prefácio

As páginas a seguir foram escritas para ajudar, se o Senhor tiver prazer em honrar o esforço imperfeito, alguns que foram atraídos pelas enganosas alegações de algumas pessoas sobre as manifestações espirituais neste século XX, da mesma natureza e grau daqueles atribuídos ao Espírito Santo no primeiro século. Era de suma importância examinar essas alegações surpreendentes à luz das Sagradas Escrituras, e o esforço de fazê-lo é submetida à consideração em oração dos interessados no assunto.

Alguns de nossos leitores podem não estar cientes de que pretensões semelhantes foram feitas em Londres há quase cem anos por Edward Irving e seus seguidores. Esse movimento começou com o falar em línguas, que se dizia serem diretamente de Deus. E avançou para apropriar-se de todos os dons e funções da igreja primitiva, alegando o reavivamento de apóstolos, profetas, anjos, etc., e terminou com a declaração da doutrina blasfema sobre a Pessoa de nosso Senhor.

Robert Baxter, uma pessoa “com dons” entre eles, foi misericordiosamente libertado dessa armadilha destrutiva. Ele escreveu um longo e detalhado relato de suas experiências. A citação a seguir de sua “narrativa dos fatos” descreve como o poder veio sobre ele em uma ocasião e oferece um exemplo típico da ilusão:

“Por algo que não posso descrever, fui feito para falar - ao mesmo tempo, reduzindo o discurso e ainda me regozijando com isso. O discurso era uma oração para que o Senhor tivesse misericórdia de mim e me libertasse da fraqueza carnal e me concedesse graciosamente os dons de Seu Espírito, o dom da sabedoria, o dom do conhecimento (ou ciência), o dom da fé, o operar milagres, o dom de curar, o dom de profecia, o dom de línguas, e a interpretação das línguas; e que Ele abriria minha boca e me daria forças para declarar Sua glória. Essa oração, curta como escrevi agora, foi forçada a partir de mim pelo poder que agia sobre mim; e o discurso foi tão alto que eu coloquei meu lenço na boca para parar o som para não alarmar o lugar".

Ele diz ainda que “um discurso não natural e em muitos casos muito assustador foi dado a mim”. Por um tempo Robert Baxter pensou que isso era de Deus, mas ele finalmente descobriu com vergonha que ele estava sob o poder do grande inimigo de Cristo.

Experiências similares de um poder incontrolável ocorrem em conexão com o movimento mais moderno das línguas. Robert Anderson registra um testemunho que vivenciou na Índia. Ele relata sua primeira experiência do impulso, pelo qual ele louva a Deus!

“Pela primeira vez me ajoelhei no altar na tarde de domingo, 17 de março, o poder começou a tomar conta de mim e ri durante todo o serviço de comunhão. À noite, por volta das 23 horas, depois de um pouco de espera, comecei a rir, ou melhor, meu corpo estava acostumado a rir com força crescente até ficar de costas, rindo da minha voz por mais de meia hora”.*

{*“Spirit Manifestations, and the 'Gift of Tongues,'” de Sir Robert Anderson.}

Acrescentamos outro exemplo citado pela senhorita Ada Habershon. Este foi um caso claro de uma mulher cristã, iludida por esse movimento de línguas. Ela ouviu vozes durante a noite e imaginou que se tornara uma profetisa. Em 1907, ela voltou a si e se apartou deles, advertindo outros de seu mal. Infelizmente, ela teve uma recaída e, então, sem dúvida, tornou-se endemoninhada, como as seguintes evidências, fornecidas por cautelosos investigadores, mostram:

“As manifestações demoníacas consistiam principalmente em contorções terríveis de seu corpo e de seus membros... e distorção dos traços do seu rosto. Os órgãos da fala não seriam usados apenas inteligivelmente, mas também em assovios estranhos, gemidos e suspiros. Blasfêmias terríveis foram  lançadas contra o céu, enquanto os punhos permaneciam cerrados.*

{*“The Strong Man Spoiled: The 'Self-Exposure of so-called “Pentecost” Spirits,'” de Ada R. Habershon.}

Felizmente, ela foi novamente libertada de sua terrível condição para advertir os outros ainda mais vigorosamente do que antes do terrível risco de adulterar as manifestações espirituais que, embora muitas vezes comecem com um aspecto de piedade, muitas vezes levam os desavisados a blasfêmias, do qual ela mesma fez.

A alegação de um dos dons dos dias apostólicos levou, no caso dos seguidores de Irving, à alegação da posse de todos os dons. E o trecho a seguir extraído de um jornal que circula agora entre os adeptos dessa prática de línguas mostra uma tendência similar a um desenvolvimento rápido. Ele mostra como aqueles que uma vez se aventuraram na escorregadia descida da trocar a verdade de Deus revelada caem rapidamente no abismo do erro, do qual poucos são recuperados.

Quando lemos o trecho, não podemos deixar de nos perguntar: onde provavelmente esse movimento acabará?

“A interpretação está presente, a profecia está sendo concedida, o discernimento de espíritos está em operação, milagres são conhecidos, dons de cura estão no meio, e de outros, há os inícios de promessa. Admitimos francamente que eles estão presentes em muitos casos em um embrião, mas ao passo que eles eram desconhecidos absolutamente antes das línguas vieram, estão iniciando sua operação agora. A necessidade de prosseguir para a perfeição é combinada de uma só vez, mas, até onde ele pode, o Espírito Santo está trazendo de volta os dons através das línguas. Dez anos atrás, Atos 19 era um vazio para alguns de nós. Hoje podemos afirmar que tudo foi cumprido na esfera de nosso conhecimento imediato. Aleluia!"§

{§“Things New and Old,” Vol. 1, No. 3, p. 5(Agosto, 1921).}

Estas palavras parecem ser um eco do vaidoso discurso de Laodicéia: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” (Apocalipse 3:17), e eles certamente irão encontrar um julgamento semelhante ao do Senhor das igrejas no dia de Cristo. Enquanto isso, eles nos trazem a memória as máximas do homem sábio: “A maioria dos homens apregoa a sua bondade”. “Como nuvens e ventos sem chuva, assim é o homem que se gaba de um falso dom” (Provérbios 20: 6; 25:14 - JND).


16 de agosto de 1922.